Em nossa interpretação a nação brasileira entrou num processo de involução civilizatória, de retorno à barbárie, à bestialidade, à selvageria.
Maquiavel dizia que se observava, muitas vezes, os mesmos acontecimentos se repetirem em povos diferentes, ou as mesmas desordens se renovarem em todas as épocas (“Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio”, cap.39, p.129)1.
A doutrina do “retorno” (“ricorsi”) do pensador napolitano Vico, é uma teoria sobre esta repetição Trata-se, na vida das nações, de uma regressão, de uma dissolução da ordem civil, de um retorno à barbárie primitiva.
Para o humanista, por exemplo, a Idade Média foi um caso típico de retorno à barbárie. Foi um período de decadência, em que se repetiu o arranjo primitivo das condições de vida dos primeiros séculos da história greco-romana. Vico destaca, naqueles séculos bárbaros, o recurso à violência extrema, aos roubos, aos assassinatos, aos sequestros, às práticas dos corsários (“Scienza Nuova” Giambattista Vico, livro V, p.656)2.
Por sinal, coincide com a conquista do Novo Mundo e o retorno da experiência social, jurídica e política greco-romana inicial. Houve a repetição daquela espécie de julgamento divino, sob a forma de Inquisição. Retornaram as guerras religiosas, no combate ao Infiel. Instituiu-se a escravidão, própria da Antiguidade.
Tal parece ser a repetição em curso no país, uma segunda barbárie tropical.
A banalização da corrupção e a impunidade não repetem o desarranjo da ordem civil? O historiador José Murilo de Carvalho, num artigo sobre corrupção e transgressão, comentou que transgredir é desrespeitar, violar, infringir. Quem infringe transgrede alguma coisa definível, uma lei, um valor, um costume. A transgressão da lei, de forma generalizada, é a regressão da sociedade para a anomia.
As favelas não são semelhantes às senzalas? O crime organizado não é a nova face dos corsários?
Detenhamo-nos na ferocidade, espelhada por mais de 60.000 homicídios por ano. O que mais evidencia a degeneração da vida civilizada é que cerca de um quinto das mortes foi derivada de conflitos interpessoais, como brigas de bar ou de trânsito, disputas entre vizinhos e crimes passionais, com destaque para o feminicídio (a banalidade do mal). Tirando isso, a epidemia de violência é reflexo do tráfico de drogas, do crescimento do crime organizado. É o estado de natureza (domínio da força), em forma bruta: uma verdadeira guerra crônica letal, em pequena escala.
Joseph de Maistre: “A história prova infelizmente que a guerra é o estado habitual do gênero humano num certo sentido, isto é, que o sangue humano deve ser derramado sem interrupção sobre o globo, aqui ou lá; e que a paz, para cada nação, não é que uma pausa” (“Considerações sobre a França”, cap. III, ‘da destruição violenta do gênero humano’, Paris, PUF, 1989, p.114)3.
A barbárie original deste país tropical – a da conquista, do extermínio dos indígenas, da escravidão-, está sendo repetida por uma segunda, contemporânea. A violência disseminou-se por todo o tecido social. A anormalidade virou normalidade (Euclides da Cunha). De tanto conviver com o anormal este virou normal.
O que levou a isto? Quais foram as causas desta patologia social que enfermou um povo, outrora considerado cordial?
Portanto, a questão a ser interrogada neste ensaio é por que a nação “evoluiu” para uma segunda barbárie.
Maquiavel dizia que se observava, muitas vezes, os mesmos acontecimentos se repetirem em povos diferentes, ou as mesmas desordens se renovarem em todas as épocas (“Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio”, cap.39, p.129)1.
A doutrina do “retorno” (“ricorsi”) do pensador napolitano Vico, é uma teoria sobre esta repetição Trata-se, na vida das nações, de uma regressão, de uma dissolução da ordem civil, de um retorno à barbárie primitiva.
Para o humanista, por exemplo, a Idade Média foi um caso típico de retorno à barbárie. Foi um período de decadência, em que se repetiu o arranjo primitivo das condições de vida dos primeiros séculos da história greco-romana. Vico destaca, naqueles séculos bárbaros, o recurso à violência extrema, aos roubos, aos assassinatos, aos sequestros, às práticas dos corsários (“Scienza Nuova” Giambattista Vico, livro V, p.656)2.
Por sinal, coincide com a conquista do Novo Mundo e o retorno da experiência social, jurídica e política greco-romana inicial. Houve a repetição daquela espécie de julgamento divino, sob a forma de Inquisição. Retornaram as guerras religiosas, no combate ao Infiel. Instituiu-se a escravidão, própria da Antiguidade.
Tal parece ser a repetição em curso no país, uma segunda barbárie tropical.
A banalização da corrupção e a impunidade não repetem o desarranjo da ordem civil? O historiador José Murilo de Carvalho, num artigo sobre corrupção e transgressão, comentou que transgredir é desrespeitar, violar, infringir. Quem infringe transgrede alguma coisa definível, uma lei, um valor, um costume. A transgressão da lei, de forma generalizada, é a regressão da sociedade para a anomia.
As favelas não são semelhantes às senzalas? O crime organizado não é a nova face dos corsários?
Detenhamo-nos na ferocidade, espelhada por mais de 60.000 homicídios por ano. O que mais evidencia a degeneração da vida civilizada é que cerca de um quinto das mortes foi derivada de conflitos interpessoais, como brigas de bar ou de trânsito, disputas entre vizinhos e crimes passionais, com destaque para o feminicídio (a banalidade do mal). Tirando isso, a epidemia de violência é reflexo do tráfico de drogas, do crescimento do crime organizado. É o estado de natureza (domínio da força), em forma bruta: uma verdadeira guerra crônica letal, em pequena escala.
Joseph de Maistre: “A história prova infelizmente que a guerra é o estado habitual do gênero humano num certo sentido, isto é, que o sangue humano deve ser derramado sem interrupção sobre o globo, aqui ou lá; e que a paz, para cada nação, não é que uma pausa” (“Considerações sobre a França”, cap. III, ‘da destruição violenta do gênero humano’, Paris, PUF, 1989, p.114)3.
A barbárie original deste país tropical – a da conquista, do extermínio dos indígenas, da escravidão-, está sendo repetida por uma segunda, contemporânea. A violência disseminou-se por todo o tecido social. A anormalidade virou normalidade (Euclides da Cunha). De tanto conviver com o anormal este virou normal.
O que levou a isto? Quais foram as causas desta patologia social que enfermou um povo, outrora considerado cordial?
Portanto, a questão a ser interrogada neste ensaio é por que a nação “evoluiu” para uma segunda barbárie.
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): FERNANDO ANTONIO MOURÃO FLORA
- Tamanho: 738 KB
- Nº de Páginas: 108
Amostra Grátis do Livro
Faça a leitura online do livro BARBARIE TROPICAL, escrito por FERNANDO ANTONIO MOURÃO FLORA. Esse é um trecho gratuito disponibilizado pela Amazon, e não infringe os direitos do autor nem da editora.