BARBARIE TROPICAL

Por Fernando Antonio Mourão Flora
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Em nossa interpretação a nação brasileira entrou num processo de involução civilizatória, de retorno à barbárie, à bestialidade, à selvageria.
Maquiavel dizia que se observava, muitas vezes, os mesmos acontecimentos se repetirem em povos diferentes, ou as mesmas desordens se renovarem em todas as épocas (“Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio”, cap.39, p.129)1.
A doutrina do “retorno” (“ricorsi”) do pensador napolitano Vico, é uma teoria sobre esta repetição Trata-se, na vida das nações, de uma regressão, de uma dissolução da ordem civil, de um retorno à barbárie primitiva.
Para o humanista, por exemplo, a Idade Média foi um caso típico de retorno à barbárie. Foi um período de decadência, em que se repetiu o arranjo primitivo das condições de vida dos primeiros séculos da história greco-romana. Vico destaca, naqueles séculos bárbaros, o recurso à violência extrema, aos roubos, aos assassinatos, aos sequestros, às práticas dos corsários (“Scienza Nuova” Giambattista Vico, livro V, p.656)2.
Por sinal, coincide com a conquista do Novo Mundo e o retorno da experiência social, jurídica e política greco-romana inicial. Houve a repetição daquela espécie de julgamento divino, sob a forma de Inquisição. Retornaram as guerras religiosas, no combate ao Infiel. Instituiu-se a escravidão, própria da Antiguidade.
Tal parece ser a repetição em curso no país, uma segunda barbárie tropical.
A banalização da corrupção e a impunidade não repetem o desarranjo da ordem civil? O historiador José Murilo de Carvalho, num artigo sobre corrupção e transgressão, comentou que transgredir é desrespeitar, violar, infringir. Quem infringe transgrede alguma coisa definível, uma lei, um valor, um costume. A transgressão da lei, de forma generalizada, é a regressão da sociedade para a anomia.
As favelas não são semelhantes às senzalas? O crime organizado não é a nova face dos corsários?
Detenhamo-nos na ferocidade, espelhada por mais de 60.000 homicídios por ano. O que mais evidencia a degeneração da vida civilizada é que cerca de um quinto das mortes foi derivada de conflitos interpessoais, como brigas de bar ou de trânsito, disputas entre vizinhos e crimes passionais, com destaque para o feminicídio (a banalidade do mal). Tirando isso, a epidemia de violência é reflexo do tráfico de drogas, do crescimento do crime organizado. É o estado de natureza (domínio da força), em forma bruta: uma verdadeira guerra crônica letal, em pequena escala.
Joseph de Maistre: “A história prova infelizmente que a guerra é o estado habitual do gênero humano num certo sentido, isto é, que o sangue humano deve ser derramado sem interrupção sobre o globo, aqui ou lá; e que a paz, para cada nação, não é que uma pausa” (“Considerações sobre a França”, cap. III, ‘da destruição violenta do gênero humano’, Paris, PUF, 1989, p.114)3.
A barbárie original deste país tropical – a da conquista, do extermínio dos indígenas, da escravidão-, está sendo repetida por uma segunda, contemporânea. A violência disseminou-se por todo o tecido social. A anormalidade virou normalidade (Euclides da Cunha). De tanto conviver com o anormal este virou normal.
O que levou a isto? Quais foram as causas desta patologia social que enfermou um povo, outrora considerado cordial?
Portanto, a questão a ser interrogada neste ensaio é por que a nação “evoluiu” para uma segunda barbárie.

Características do eBook

Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:

  • Autor(a): FERNANDO ANTONIO MOURÃO FLORA
  • Tamanho: 738 KB
  • Nº de Páginas: 108

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