Atlas dos Sonhos ou a extraordinária viagem que Guilherme, também chamado Emrëhliug, fez ao Reino dos Sonhos em 17 dias e tudo que fez e encontrou lá

UM AVISO ao incauto leitor, que seduzido pelas astúcias do livro e munido de intrépida tolice, ousou volver essas parcas páginas.

Sobre as antigas lendas, que a muitos perturbam os sonhos;
Permita que seja eu o relator e o arauto dos infortúnios do Alto Rei;
Mas de antemão vos aviso: se tens medo de contos medonhos;
Fecha o livro e não te preocupas, de covarde não te chamarei;
Se insistes em ouvir a terrível história, não diga que não avisei;
Pois sobre monstros, lobisomens e bruxas cruéis, cá escreverei.

Mais uma vez, leitor, te convido a fechar esse livro. A leitura pode ser divertida e aventurosa, mas a história é triste, e, em parte, fala sobre uma busca que já começou perdida. Não digo que é, de maneira alguma, desinteressante, pois o que tens em mãos não sou eu quem digo, mas a Senhora Louise, que certamente faria, e fez, de forma diferente. Eu tive apenas permissão de ler seus diários e não de publicá-los, mas o fiz diante do comando de quem detêm maior autoridade. Se mesmo assim, insistes em lê-lo, o faça até o final, ou não. E se posso dar-te algum conselho, abandone a leitura antes que os piratas das nuvens despontem no horizonte ou da Ruína de Flussfestung e da queda de Owain-Brenin, mas só então emita seu julgamento. E se o fizer, o faça com brandura, pois saiba que por causa destas páginas eu fui sentenciado ao pelotão de fuzilamento, e essas primeiras palavras que lê agora, foram as minhas últimas em vida, confessadas a um bom amigo e Senhor meu. Não me arrependo. Não irei chorar. Não me permitiria dar esse deleite ao verdugo que veio de Braunau am Inn. O diário que deu origem a esse conto, acho que se perdeu naquela triste noite de 10 de maio de 1933. Não sei dizer com certeza. Mas se foi queimado, então essas páginas são a única memória dela que ainda restou nesse mundo. E como não poderia deixar de ser, em se relatando a vida e a morte de uma von Träume, começou num sonho…

Esse é o início da jornada de Louise, uma luxemburguesa que vê seu país ser tomado pelos alemães, em 1918, no desenrolar das hostilidades da Primeira Guerra Mundial, e para tentar salvar seu pai, preso por traição, e reencontrar sua mãe, sai em uma jornada pelo Reino dos Sonhos, onde encontrará muito mais do que buscava, enfrentando a intolerância da Igreja Onírica, a ambição de um tio que não conhecia e muitas aventuras.

Já a jornada do jovem Guilherme começa muito diferente, estando em 2015, ele não consegue dormir, então ouve o relógio cuco cantar a meia-noite, mas quando ele chama treze, quatorze, quinze vezes, tudo ao seu redor muda, e o garoto é levado de sua casa para o mágico Reino dos Sonhos.

CAPA: Jhon Everett Millais