As transparências impenetráveis

As transparências impenetráveis, assinado por A. Lopes Dantas de Oliveira (é assim que o autor aparece), é um livro composto por treze contos, que se debruçam sobre temas trabalhados no crivo da metalinguagem O autor interage com as tantas máscaras, criadas pelos vários narradores (às vezes, mais de um em um mesmo conto), contudo, apesar de o escritor lidar com vários recursos literários, sua literatura não se esvai em tecnicismos. As verdades se abrem, para abrigar o que nos conforma como humanos: a solidão, a morte, a finitude. Esses temas são tratados com sarcasmo e com ironia pelo autor, ao conceder, aos seus narradores, uma existência autônoma.
É por meio da máscara que o escritor, ou o seu heterônimo, vestem a roupagem da literatura. Trata-se de uma literatura sempre fracassada, cujos insucessos são, talvez, as formas, pelas quais o autor destitui a própria literatura de sentido.
É assim, pois, que A. Lopes Dantas de Oliveira anuncia seu mundo: ilusório, fatídico, ambíguo, poético, em uma narrativa de fúria contra uma humanidade marcada para morrer. Diante de tantas verdades anunciadas, resta ao autor assumir sua verdade literária. E ele o faz com maestria, como quem tem lucidez sobre as mazelas do mundo, mas, também, domínio dos recursos literários e da serventia para o outro, que não quer ou não pode dizer o inenarrável. Sim, antes de ser vaidade, a literatura é um gesto de amor. Assim, são os contos de Átila: para além das fronteiras entre ficção e realidade, suas histórias revelam a face trágica do exílio, que desemboca nas tantas idas e vindas, as quais, aparentemente, parecem sem valia.
Neste livro, não existe linha reta; ele se cria, a partir de uma força ambígua, movida por afirmação e por negação. Estamos diante de um texto dialógico e polifônico, desestabilizando o discurso literário, mas, também, a forma vazia da existência.

Ana Maria Agra Guimarães
Professora da UNB
Ensaísta e escritora