A ideia inicial, sobre o presente trabalho, era a de um livro que conteria narrativas eróticas, mais ou menos extensas. No entanto, no meio do caminho e da feitura textual, apontou-se, em nosso horizonte, a possibilidade de trabalhar com um gênero literário sintético, cortante, bem estético, e que pede para ser preenchido, em suas pequenas dimensões, por um tanto de wit – e capacidade direta e descritiva de questões do humano: o aforismo. Pensamos, então, em aforismos sexuais, sacanas ou reflexivos, mas que pudessem figurar como sussurros, ou preces murmuradas, do erotismo. Não se trata de preces eróticas; nossa busca é a de que elas sejam, soem de fato, como “do erotismo”. Ou seja: trazer uma textualidade a se configurar como a própria voz do erotismo, e não de nossas fantasias ou fetichismos meramente idiossincráticos. Antes: a questão seria traçar uma escrita geral, provocativa e excitante para qualquer leitor, disposto a deixar fluir em si a linguagem de sua própria libido – quem sabe, dentro das possibilidades para tanto, até identificada com o modo de expressão linguístico-libidinal e conteudístico de nossas curtas apresentações, ou abruptos desnudamentos da pele; pelas vias que as palavras nos proporcionaram. Assim, o leitor pode buscar no livro uma “rapidinha” que talvez o esquente, intensifique, em sua energia propícia ao prazer; ou uma transa estimuladora de cada parte de si, através do calmo percurso por cada aforismo, cada ideia ou descrição, sem ter que ser, em absolutamente nada, de tal processo, precoce. Ao compartilharmos nosso prazer, nossas nuançadas e densas trocas do erotismo, eu e Bruna, por alguma razão, sentimos que poderia ser interessante, ou simplesmente gostoso, trazer tais aspectos, em elaboração textual, igualmente para um público já envolvido, ou interessado, em investigar tal temática. Esperamos falar, portanto, de um primeiro projeto que possa ser propulsor de vários outros, e nos vá, ainda, colocando em contato com interessantes escritores dedicados a tal assunto, ou do mesmo “tangenciadores”, além de pessoas mergulhadas numa instigante trajetória de se permitir conhecer eroticamente; e curiosas em também, por que não?, degustar a(s) linguagem(s).
A escrita do livro busca ser fluida. Alguns aforismos podem ser lidos como microcontos, alguns como reflexões, pequenos ensaios ou poemas. No caso dos textos divididos por barras, os trechos que se encontram entre tais barras podem ser lidos como versos. Mas não se trata de estabelecer poemas, o ponto é destacar um alvo poético desses textos, no sentido de serem passíveis de uso como considerações ou poemas mesmo, ficando isso aberto ao gosto do leitor. E aí está o conceito de fluidez que almejamos trabalhar: se espécie de miniconto, breve ensaio, reflexão, registro de um insight, ou poema – caberá ao próprio leitor decidir, pela sua própria leitura, claro, ou conforme queira usar cada parte do material literário em suas mãos. A ideia de aforismo aqui fica mais aberta então: texto de cunho estético intelectual, entre o trabalho literário e a reflexão conceitual, que fica disponível funcionalmente àquilo que mais apeteça seu leitor. Não tendo compromisso de se firmar em algum gênero literário ou filosófico, mas, em seu trânsito, sendo trabalhado em estética que busca elaboração e possibilidades de fato de instigação de ideias. Sendo costumeiramente curto, incisivo, apesar de bem trabalhado, e tendo o aspecto de um insight, uma fulguração liberta à qual o escritor se permite.