As Histórias Expurgadas do Livro Sagrado

Alguns dirão que o mundo existe. E dirão também que os Mitos seriam capazes de provar esta sua existência, seriam capazes de apreender e de apresentar o mundo como uma totalidade, seriam capazes de interpretar o mundo em todos os seus sentidos psicológicos, sociológicos, culturais e ideológicos, verdadeiramente, em toda a sua paisagem humana, em todas as suas representações de tempo, de espaço e da pessoa, posto que o mundo, deste ponto de vista, não passaria de um grande sopro narrativo, de um infinito conjunto de narrativas que se interseccionam em uma espécie de história universal, uma espécie de divina comédia humana, cuja origem, sem dúvida, remontaria a todas as nossas cavernas, inclusive àquelas que realmente eram de pedra. Mas haverá, sem dúvida, os que advoguem, diferentemente, em favor da existência do mundo como um objeto que resulta do complexo olhar matemático e empírico das ciências, ou como uma profunda verdade do Ser, expressa pela filosofia, ou como um intenso, dramático, trágico e lírico olhar da fé das religiões, ou, quiçá, ainda, como simples forma do belo, imenso objeto estético da arte, das artes. Mas seja, pois, objeto de beleza para a fruição do corpo e da alma, seja crença de fé para a transcendência do espírito, seja fenômeno e essência do Ser para o logus, seja objeto histórico e material para a razão e para as sensações transitórias da experiência humana, o certo é que todos estes discursos de representação do mundo tangenciam, em algum ponto do universo dos sentidos, como cooperação ou como contraponto, um jardim das narrativas míticas, esse tipo de narrativa alegórica, humana e divina, não somente como parte da apreensão do real e do sagrado, mas como compreensão narrativa, figurativa, como paisagem totalizante das interações entre o Ser humano e o seu espaço no tempo, cronotopo em que se enlaçam o real e o sagrado, a imanência e a transcendência do Ser, o aqui e o acolá, o agora, o antes e o depois. Este é o tempo-lugar ocupado pel’As Histórias Expurgadas do Livro Sagrado, de Suely Corvacho. Os seus contos abrem todos os olhos mágicos e todas as portas que dão, ao mesmo tempo, para o mundo ordinário e para o mundo sagrado do Ser no mundo, assentando-se no idílio entre os muitos saberes da ciência, da filosofia, da religião, da arte e da mitologia. Tomando como plano denotativo de sua expressão, um conjunto de discursos mitológicos ocidentais e orientais, cuidadosamente selecionados – e que já são, per si, conotados e plurais em seus sentidos primários –, As Histórias Expurgadas…, de Suely Corvacho, potencializam o caráter metafórico e alegórico dos mitos, acrescendo-lhes o bom humor do discurso paródico e a efabulação viva do cotidiano, mas sempre no sentido de compor uma paisagem estética questionadora e reveladora da história humana, história em que o plano místico e o plano mítico se instauram diluídos no plano mais ordinário da vida. (…) A intenção de adensar com a cereja da ficção, tanto a narrativa mítica, quanto a narrativa histórica, no sentido de ressignificá-las a partir de possibilidades semânticas e estéticas das artes literárias, foi, sem dúvida, o caminho escolhido pel’As Histórias Expurgadas do Livro Sagrado para desmitificar a narrativa humana, denunciando, com riso fácil, o real como um mero conjunto de discursos que se multiplicam em disputas ou em confluências de figurações do mundo, ganhando este ou aquele sentido, esta ou aquela verdade, em conformidade com as lutas históricas pelo poder telúrico, que se dão, ora abaixo, ora acima, ora diante de Deus, de Zeus, dos Teus e dos Ateus. É assim que este Jardim das delícias moderno nos convida ao pleno desfrute do riso e da reflexão.
Prof. Dr. Charles Borges Casemiro

Características do eBook

Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:

Autor(a): Suely Corvacho
ASIN: B0BC6TJ79S
Editora: Estige Editorial Ltda
Idioma: Português
Tamanho: 400 KB
Nº de Páginas: 107
Categoria: Contos

Amostra Grátis do Livro

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