AS DESCOBERTAS DE ABÍLIO: E o tesouro da ilha de Santa Bárbara

A minha mãe era dona de casa, como se dizia na época. E o meu pai era funcionário da Alfândega do Rio de Janeiro. Todos os dias, antes de ir para o trabalho, ele comprava duas bisnagas para o café da manhã. O bico da bisnaga era a parte do pão que todos nós queríamos, inclusive os meus pais.

Naquele dia, quando nós nos sentamos para tomar o café da manhã, a minha mãe disse: “temos uma novidade para contar para vocês”. E, sorrindo, continuou. “Nós vamos nos mudar para outra casa. Ela fica em uma ilha, aqui pertinho de onde nós moramos. Vocês vão poder pescar, explorar as ruínas da ilha, e conhecer novos amigos”.

Naquele tempo, os pais quase não conversavam com as crianças sobre a vida dos adultos. Quando as coisas eram faladas, era quase sempre em cima da hora. Na maioria das vezes, não havia uma preparação para que pudéssemos aceitar as novidades. Quando a minha mãe falou sobre a mudança iminente, a nossa reação não foi boa. Meu irmão, com cinco anos de idade, resmungou quase chorando, “eu não quero ir”. Eu apenas disse: “Mas, por quê”? A Antonieta, com menos de três anos, foi a única que reagiu bem. Ela disse, “mãe, lá tem peixinho”? Aquele acontecimento, mais que qualquer outro, iria marcar a minha vida para sempre. Deixaria para trás os amigos da primeira infância em troca do desconhecido mundo das amizades. Meu coração estava triste, mas ao mesmo tempo, cheio de expectativas desbravadoras.