ALTA SINERGIA: a sorte e os oráculos

Seria esta uma inclinação suicida ao mundo dos sonhos? Talvez…

Ajuntamos aqui alguns retalhos de nossa alma suburbana, com um olhar caído de um anjo soberbo sem causa, atado aos seus círculos viciosos de linguagem.

Quem sabe este livro não seja também um esforço para se chegar ao centro, o itinerário de um peixe fora d’água em busca de água respirável, que vez ou outra reconsidera as próprias palavras e nada sobre os próprios conselhos.

Tal qual o náufrago em sua ilha de ideias solitárias, eu observo a minha carta enrolada na garrafa, certamente que ela chegará um dia as mãos de alguém não menos importante, que possa ao menos folhear algumas dessas páginas para saber logo o que acontece no fim :

Palavras sussurradas ao vento resistindo às ondas em direção ao continente…

AD AETERNUM

Se é eterno não deixará de acreditar em mim
sou uma sombra que cresce ao entardecer
apesar de ser sempre tão óbvio e natural
ainda me perco no tempo
vestido com os trapos do acaso
cercado de mar e ao mesmo tempo afogado

apesar de ser sempre tão óbvio e natural
ainda me sinto
como aquela carta endereçada ao destino
flutuando em algum estar ou lugar

em qualquer ponto
a aparar arestas
a reunir migalhas
a apanhar folhagens
a me esconder por detrás dos signos
ignorando a face do Espírito

que na ausência do tato
na pele invisível da minha alma
sopra um vento austero
sem retocar minhas sombras
ou quaisquer das minhas rugas

Nesse mundo desinformado e vazio uma simples ideia torna-se a perdição de muitos, uma bomba de otimismo que de repente te implode, um bote, uma filha bastarda do pensamento, uma transgressão dos costumes, uma anomalia no sistema da máquina de moer gente, um domo, uma bolha de sabão, uma planta em um deserto voraz.
Fluxo e mutação, a verdadeira certeza, a certeza da morte e a espera… o que mata é a espera.

“Se você tiver uma ideia, retire-a da lama e a encaixe ao lado das estrelas, os curiosos, assim como os insetos, serão arrastados pelo esplendor da tua lâmpada”