A pedagogia da palmatória: ou a filosofia das moscas

Não saberia explicar de onde surge esta necessidade insana de escrever. Como um surto, um colapso, um delírio, uma febre alta, um peido!!! Situações nada transcendentais. Não achas??? Crês realmente que seja diferente disto? Uma visão , uma missão, uma luz, uma ordem
interna. Não te esqueças que podes confundir tais sintomas com alguma patologia social, um delírio alucinado diante de um chá de cogumelo, um
baseado ou haxixe. Por trás de todo escritor existe um sujeito, como você; escrever não transcende nada, na verdade,
depois de ler, tu mesmo, uma meia dúzia de livros, deveria como que por obrigação, escrever também.
Ou ficarás eternamente como um borra-botas que passou a vida inteira bebendo o que outros tiveram coragem de plagiar e escrever?
Neste país de bundões crônicos qualquer sujeito que ouse subverter ou aniquilar o stabeleshment é digno de camisa-de-força.
Todas, mas todas as ordens que levam alguém a escrever estão muito mais associadas a fatores fisiológicos e mercadológicos do que metafísicos.
Ora, meu caro leitor, esperava o quê? Acreditas fielmente que a idéia de fazer-nos um ser diferente de ti, teria outra intenção senão esta de montar este
teatrinho egocentrista? Sou o mesmo que escreve, não tenha nenhuma dúvida, com um certo retoque, é claro, uma dissimulação aqui outra acolá, tentando esconder quem eu realmente sou. Tudo ilusão! De tua parte, não minha! Penetre de vez, mas passo por passo, o íntimo de
quem escreve, mesmo que este negue, e insista em se pôr “abaixo” de ti, quem se diminui quer ser aumentado, disse Nietzsche certa vez. Então olhe e
repare com bastante calma, junte cada peça, dissolva os nós, esqueça o meu niilismo, pois logo estarás entrando porta adentro na vida
minúscula de cada personagem, que na verdade são: pai, mãe e filho, todos unos. Mesmo que o autor negue, não creias, siga adiante, viole a sua cela ou o
seu esquife.
José Montanha