A partilha: Pequena biblioteca de contos pornográficos

“De todas as suas fantasias, que, diga-se de passagem, não eram poucas, aquela de partilhar a mulher era a mais persistente. Todas incluíam mais do que duas pessoas (isto era mesmo uma condição para estar no terreno de seus sonhos). E há tempos aquilo já se transformara em obsessão para ele: no que tornava possível, pela força da imaginação, uma excitação renovada uma ou duas ou três vezes por semana ao longo de cinco ou seis ou sete anos de um relacionamento que ainda prosperava, contrariando as suas próprias expectativas. Entre a fantasia e sua realização há abismos intransponíveis. Há, inclusive, a possibilidade de que ela se realize como pesadelo. E por isso, ou ao menos também por isso, ele tinha um imenso receio de ousar experimentá-la. Mas naquela noite…
Naquela noite havia uma possibilidade. Mal havia passado da meia-noite quando chegaram numa casa de suingue. Nunca haviam ido numa. Para eles, as coisas picantes eram, até o momento, mero pretexto para primícias, um acalento, sussurros ao pé da orelha. Naquela noite não: estavam agora naquele espaço enigmático que habita tantos imaginários por aí. Chegaram mais tensos do que excitados.”