A página em branco dos teus olhos: Contos

A linguagem da internet utiliza-se de curiosos ícones que buscam representar, de forma simples, o estado emocional do usuário da rede mundial de computadores nas redes sociais. São os “emoticons”. É por meio deles que o internauta expressa muito rapidamente o quanto gostou ou não gostou de uma certa mensagem, seja ela textual, visual ou sonora. E é principalmente na web que Sonia Zaghetto e Cláudio Chinaski veem a manifestação de sua arte receber as curtidas ou “dislikes” de um público crescente.É dessa experiência com a comunicação em rede que decorre a linha adotada nos textos desses dois talentosos contistas. Isto porque a opção narrativa evidente dos autores não é o experimentalismo literário, a inovação estrutural por si só ou a literariedade adotada como um fim em si mesmo para a escrita. O que Sonia e Cláudio experimentam em seus contos é o alcance de uma narrativa emocional que atravessa as grandes e universais questões colocadas diante da vida: sobrevivência, finitude, amor, morte, tempo e eternidade.O que se tem são histórias contadas deliberadamente com o máximo de envolvimento, nas quais o narrador é muitas vezes mais que um alter ego, chegando mesmo a ser um personagem tão verdadeiro que só é possível alcançá-lo por intermédio da ficção. Nada daquele distanciamento pedante e asséptico, frio e frívolo, próprio de um certo artificialismo literário do século passado, pré-internet, que se preocupava muito mais com a reputação do autor do que com a experiência viva do leitor. Não. Nada disso.Sonia e Cláudio narram – e sabem narrar dessa forma – para despertar emoções, esta virtude rara que uma literatura falsamente “objetiva” e “densamente intelectual” tentou tornar fora de moda, e com isso quase pôs tudo a perder – ao abrir mão do que um texto precisa manter de essencial para sua sobrevivência no espaço e no tempo: leitores reais.Os leitores de Sonia e Cláudio são os do nosso tempo de distâncias, isolamento e comunicação virtual, um tempo de viralidade de informações e polarização política, um tempo do qual ainda pouco sabemos, na verdade. Uma coisa, porém, parece cada vez mais clara: este é um momento exponencial em que cada um busca entregar a todos o que tem de si, preferivelmente o melhor (mas não necessariamente), e isto em escala planetária.Do mesmo modo é também um instante em que procuramos encontrar nessa entrega o eco de nossas paixões, o reflexo de nossos sentimentos, a reverberação de nossas experiências de felicidade, tristeza, solidão, abandono, pertencimento, angústias, afetos, prazeres, delícias. O que ansiamos é alguma coisa que escreva na página em branco de nossos olhos aflitos, que nos fale e fale ao nosso coração cada vez mais consciente de estar perdido entre as estrelas. Sonia e Cláudio cumprem muitíssimo bem essa missão em 30 belas histórias fluidas, de espírito, digamos, clássico, que fazem refletir e enfrentar o mundo de um modo menos amargo.