A MENINA ILUMINADA

“Eu acho que somos o acúmulo de tudo: do que fomos, do que somos, do que quiseram que fôssemos, dos valores dos nossos pais, famílias, sociedade. Somos também o que lemos, o que aprendemos. Acho que tudo o que chamamos de sou, não somos. O que achamos que somos, são essas projeções, nossas ou dos outros, essas personalidades construídas em pensamentos e experiências e não o que somos realmente. O que somos realmente, esta além do relativo, porque não pode ser verdade o que para um é uma coisa e pra outro é outra. É óbvio que se o que eu penso é baseado em mim, nas minhas experiências e pensamentos, aquilo é a minha verdade. A verdade do outro é outra, ou seja, esse mundo que vivemos não é um só mundo, mas bilhões de mundos, cada um com sua história, experiências, conhecimentos, ideias, pensamentos, desejos, emoções. O grande lance é saber disso: conseguir não acreditar no que eu penso, no que eu acho como real, lembrar que aquilo é uma verdade pra mim e está condicionada às interpretações, julgamentos e vivências que eu tive, que aprendi e criei pra mim mesma, porque na realidade é tudo criação, imaginação, julgamento, ideia. Toda a forma de pensar não procedente do real (fato) é distração.
Eu não acho que deva criar barreiras e ficar com o pé atrás por causa de experiências que eu tive com outras pessoas, por causa de coisas que eu aprendi dessas experiências. Não sei se elas são válidas pra esse caso também e, se eu supuser que são, fecho as portas para o novo, para conhecer alguém de verdade. Se eu usar o que aprendi pra avaliar o agora, o que estou vendo, já vi antes, suponho saber os motivos de tal ou qual atitude e assim julgo o novo de acordo com o passado, não acho isso bom, nem saudável, por isso digo que tenho me esforçado pra romper com esses aprendizados registrados em mim.”
A Menina Iluminada.
Livro escrito após a autora ter sido laureada com a menção honrosa do Itaú Cultural em julho de 2019 com o conto de mesmo nome.