A Máquina Consciencial: Contos de Ficção Científica
Por Miranda May et alEntre utopias e distopias, entre um sonho ou um delírio consciente, entre o sim e o não — o zero e o um da linguagem binária —, jaz o substrato pensante desta máquina revisada pela consciência dos autores que se elenca. Muito mais que meros contos de ficção-científica, a coletânea que se apresenta reflete a inquietação que o mundo tecnológico a nossa volta nos desperta quando a Internet, as mídias sociais e a inteligência artificial, ainda que muito incipiente, já promovem árduas mudanças nas relações humanas, tanto entre si, quanto com as máquinas. Não obstante, permite vislumbrar paradigmas que há pouco tempo, sim, se transpareciam como a ficção que a presente obra convida visionar. Pedroom Lanne (prefácio).
O som era alto – muito alto. Por isso, há muitos anos ninguém mais se ouvia. O céu – nebuloso e cinza – anunciava as últimas lembranças do que foi – um dia – o planeta. A monstruosa máquina que transformava energia magmática em energia elétrica havia entrado em colapso e desligado todas as comunicações com o exterior. Os engenheiros e técnicos não conseguiram se aproximar para desligá-la, pois ela passou a liberar enormes quantidades de calor que vazava por fendas e tubos. Nenhuma explicação foi dada para o estridente som que ela passou a emitir. Desde a primeira desaceleração, quando as autoridades começaram a dar atenção aos ecologistas, cientistas e meteorologistas, os carros e qualquer maquinário que poluísse a atmosfera foram proibidos de transitar. Mas, na última desaceleração, qualquer cidadão por mais que tentasse se enganar com teorias messiânicas, já estava consciente de que o fim chegara. Conforme a atmosfera se aquecia, os glaciares derretiam e as águas invadiam as cidades costeiras levando a população a subir para as montanhas na esperança da salvação. O alimento escasseava na medida em que a fotossíntese cessava. Primeiro desapareceram os herbívoros, depois seus predadores se extinguiram. Não demorou muito para o canibalismo se instalar e tornar-se fato corriqueiro. Mas, com o escurecimento e aumento da umidade, as doenças endêmicas viraram epidemias que se espalharam rapidamente entre as populações mais suscetíveis. Os mais fracos morriam primeiro, os mais fortes foram resistindo e mudando sua forma e funcionamento com o passar dos séculos. Nós que já fomos humanos (Miranda May)
Sempre fui uma seguidora da lógica. Acreditava piamente no conhecimento como o único meio de evoluir. A razão, ao meu ver, quebrava preconceitos, desvelava verdades e determinava evoluções socioculturais. Eu sabia qual era meu papel na sociedade, e sabia o que esperar dela. Eu me negava a crer em teorias conspiratórias, a menos que houvessem evidências que as provassem. Para mim, o que chamavam de intuição era na verdade um mecanismo cerebral que captava detalhes de forma inconsciente e os transformava em posicionamentos que nos salvavam de inúmeras situações e pessoas nocivas. Meu mundo estava completo. Cada coisa em seu devido lugar. O amor em conexão com a razão, e a razão em conexão com a felicidade. E tudo real e meu. Foi quando aconteceu algo que mudou minha visão dos fatos, algo que me fez perceber que nem sempre o que se vê é real. Que nossa percepção falha, que nossa realidade é enganosa. E que o coração, mesmo que você não queira, às vezes vence a razão por nocaute. O Não-Humano (Brunna Brasil)
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): Miranda May et al.
- Tamanho: 34342 KB
- Nº de Páginas: 305
- Editora: Engenho das Palavras
Amostra Grátis do Livro
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