A espada do Rei

A Espada Do Rei
A noite, sorrateira e silenciosa, aproximava-se a passos largos do Vale do Tua. Muito ao de leve, a delicada paleta do ocaso ia conseguindo tingir de mil e uma cores o azul celestial do ameno dia de verão. Rui, Ana e Pedro regressavam a casa depois de mais uma tarde de brincadeira junto à pequena praia fluvial que o ligeiro recuo das águas havia formado a escassas centenas de metros da sua aldeia. Rui, de 15 anos era o mais velho do grupo, Ana e Pedro, de 12 e 13 respectivamente, eram irmãos, e amigos de infância do primeiro. Conheciam-se praticamente há quase tanto tempo quanto o que as suas jovens memórias conseguiam recuar no passado.

– Epá, estou cá com uma fome daquelas… – Disse Pedro, ao ouvir os queixumes impacientes do seu estômago vazio. Haviam trazido um generoso farnel com eles, mas a boa verdade é que já haviam passado umas compridas duas ou três horas desde o derradeiro deleite com as últimas sanduíches de presunto. O crescente sentimento de larica era algo generalizado entre o trio que tirara a tarde de sábado para nadar, pescar e brincar junto ao rio.
– Podes crer, estou desejosa de provar o cabrito assado que a mamã estava a preparar quando saímos. Cheirava tão bem! – Exclamou Ana, sentindo um amontoado de água a florescer-lhe na boca ao recordar na sua mente a imagem que retivera da ceia a ser temperada.
– Pois olhem que eu estou pouco melhor, não vejo a hora de me sentar à mesa… – Disse o mano, revirando os olhos e apalpando o estômago um par de vezes.
– Epá! Vocês parem lá de falar de comida senão ainda me vou babar todo antes de chegar a casa. – Comentou o desbocado do Rui, fazendo com que todos em conjunto se rissem com grande à vontade. O vislumbre das chaminés fumegantes ao fundo do pequeno outeiro polvilhado de choupos e azinhos encheu-lhes o olhar de brilho. Quase que conseguiam sentir os cheiros dos suculentos preparos a rebolar nos tachos e panelas. E era a pensar em temperos e sabores que avançavam pelo caminho, sentido que cada passo dado os deixava mais perto de satisfazer as barrigas resmungonas. Foi então que a dada altura do percurso algo de inesperado prendeu a atenção de Rui: