A Armagéia: Um sonho de liberdade

A exemplo de muitas civilizações primitivas que floresceram graças a uma privilegiada localização geográfica, nasce “A Armagéia”, esta terra fértil cortada por veias de pura água doce e protegida de seus invasores por montanhas portentosas que a cercam como um muro açoitado pelo mar bravio. Este é o cenário que Yvan M. Oliveira escolheu para construir uma obra literária, que narra a vida de desbravadores de uma época que remete ao início da idade do Bronze. Assim os habitantes errantes de uma pequena tribo descobrem a cadeia de montanhas conhecida como Hácquilas e depois de ultrapassá-las chegam ao grande vale que se assemelha uma cratera fértil, onde finalmente se instalam e prosperam. Vivem em bandos onde cada líder tem autonomia para prover suas necessidades tanto de alimentação quanto de defesa. Mas na medida que a população aumenta, os mais poderosos passam a fazer justiça com as próprias mãos. O povo clama pela escolha de um rei que terá como legado restabelecer a ordem, ditando leis e vigiando para que sejam cumpridas, através da criação de uma guarda especial. Em breve este primeiro rei está morto, assassinado em emboscada pelo próprio filho, de nome Hancor-Jept, figura cruel que se impõe pelo terror, criando um ambiente truculento cujas atrocidades funcionam como motivo para aparecimento do principal personagem que tem o nome de Pháretra. Ele aparece como único sobrevivente de um massacre promovido pelo rei.

Pháretra é jovem, forte, corajoso. Favorecido pelo destino consegue fugir driblando a morte, tornando-se o mote de uma experiência singular, aquela em que o ser humano enfrenta a solidão absoluta na condição de banido. O escravo finalmente encontra abrigo entre a natureza inóspita, já que permanece isolado no alto de um rochedo, tendo como guarida um ninho de águia.

Depois de fortalecido, levando como companheiro um pequeno filhote de águia, Pháretra parte de volta a civilização pois nutre o desejo de vingar o seu povo enfrentando o rei. A viagem de retorno é uma continuação do aprendizado iniciado junto a natureza. Adentram através das aldeias onde conhecem mulheres fortes e amorosas, soldados enfraquecidos, grandes senhores, sábios, mendigos, feiticeiros e embusteiros, além de um povo sofrido que começa a conspirar contra o rei.

Quanto ao nosso amigo Yvan, ouso dizer que ele tem um pouco de Pháretra, a medida em que pode respirar da liberdade criativa que o fez escolher as melhores palavras que pulsavam em sua mente, ansiosas a espera do autor que lhes desse vida.

Sonia Zied.