14 dias de escuridão

Por Hugo Pignatti
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Confesso que quando o conheci, ainda era uma criança. Ele era alto, a barba por fazer, falava pouco, mas arrastado, tinha um que de misterioso e as vezes seu olhar encontrava no horizonte a carruagem de pensamentos infinitos. Admirei-o por toda minha infância, imaginando se um dia me regozijaria em seus braços, mas minha educação era dura, cruel aos sentimentos.

Meu pai era daqueles bons homens que nunca erram e por isso cometem o erro do excesso. Eu, filha única, não tive muitas escolhas senão me esconder dentro de um semblante de boa menina. Tracei minha história de desejos apartada de mim, como se negligenciasse o amor e qualquer outro bom sentimento que se acostasse a tal máxima expressão.

Já minha mãe, por não ser tão boa gente como meu pai, recebia o fardo de ter de lidar com o ego do marido que era maior que a própria família. Com o tempo a boa vontade foi carregada para tão longe que já nem me lembro a última vez que trocamos olhares afetuosos.

Minha vida não mudou muito da infância para adolescência. Sempre vivi jogada pela casa que meus pais orgulham de ter como patrimônio, ainda que eles venham cá apenas para dormir. Nunca fomos de conversar ou mesmo de conviver com muitos outros viajantes que aqui se instalaram, o que acho até muito bom, já que sou tão tímida que até pensei se devia mesmo escrever essa introdução.

Acho que eu não era assim quando mais nova. Ia bem com todo mundo e até brincava de montão. Foi depois que eu me fechei. Depois de ver no homem tanta maldade que fez brotar, no meu sensível e puro coração, o desgosto. Acho que era meu pai quem semeava pensamentos tortos, os quais ainda me causam sofrimento e medo. Sou solitária por opção e sei bem disso.

A solidão por si só não me causa grande espanto; mas o medo, sim. Tenho medo de tudo o que podem pensar de mim e, cada vez que me vejo um pouco no estado do possível, é como se eu colocasse os olhos diretamente vertidos ao sol, imediatamente tendo de fechá-los com receio de me cegar.

Ah sim… comecei dizendo da paixão e já estou cá mirabolando sobre a solidão. Parecem dois momentos de Sartre, quando ele está tomando vinho com os amigos e quando o vinho acaba e os amigos se vão, mas receio que meu amor de infância foi tão verdadeiro que até agora estou tentando compreender o que houve entre nós.

Todo ano ele vinha no Natal, trazia qualquer coisa para meus pais e não falava muito às refeições. Era eminentemente calado e parecia um tanto sombrio. Não houve um ano que não prestasse maior carinho e atenção a mim e, eu tão boba, calava-me com vergonha do que sentia. Era tão juvenil… ainda o sou. Acontece que as palavras não saem com tanto louvor dos meus lábios quando eu as digo, por isso prefiro evitar dizer mais do que for estritamente necessário. Ele olha pra mim, se ajoelha, mas conhece meu pai, conhece-o como se o fosse, e não me afaga. Quantas vezes eu queria aquele homem só para mim. Só para ficar ao meu lado. Só para me fazer um pouco de companhia. Ele me causava o que ninguém conseguia.

Se era mais velho? Que mulher nunca se apaixonou por um homem mais velho? Tudo bem que eram longos anos e que, entre minha adolescência e juventude, vi seus cabelos caírem e seu rosto envelhecer um pouco, mas, com plena certeza do que digo, não perdi, por um só dia, o encanto que por ele senti. Por isso, resolvi escrever esta história, para nunca mais me esquecer do verdadeiro amor.

Características do eBook

Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:

  • Autor(a): Hugo Pignatti
  • ASIN: B09SYGM9WX
  • Idioma: Português
  • Tamanho: 1768 KB
  • Nº de Páginas: 55
  • Categoria: Contos

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