“A Romãzeira do Macaco” – Adolfo Coelho
A Romãzeira do Macaco
Era uma vez um macaco que estava em cima de uma oliveira a comer uma romã; sucedeu que caiu um grão da romã para a terra em que estava a oliveira e, passado pouco tempo, nasceu uma romãzeira. Quando o macaco viu a romãzeira nascida, foi-se ter com o dono da oliveira e disse-lhe:
Arranca a tua oliveira para crescer a minha romãzeira.
Responde o homem:
Não estou para isso.
Foi-se o macaco ter com a justiça e disse-lhe:
Justiça, prende o homem para que arranque a oliveira, para crescer a minha romãzeira.
Responde a justiça:
Não estou para isso.
Foi-se o macaco ter com o rei e disse-lhe:
Rei, tira a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira.
Responde o rei:
Não estou para isso.
Foi o macaco ter com a rainha:
Rainha, põe-te mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, etc.
Responde a rainha:
Não estou para isso.
Foi-se ter com o rato:
Rato, rói as fraldas à rainha, para ela se pôr de mal com o rei, etc.
Responde o rato:
Não estou para isso.
Foi-se ter com o gato:
Ó gato come o rato, para ele roer as fraldas à rainha, etc.
Responde o gato:
Não estou para isso.
Foi-se ter com o cão:
Ó cão, morde o gato, para ele comer o rato, etc.
Responde o cão:
Não estou para isso.
Foi ao pau e disse-lhe:
Pau, bate no cão, para o cão morder o gato, etc.
Não estou para isso.
Foi ter com o lume:
Lume, queima o pau, para ele bater no cão, etc.
Não estou para isso.
Foi ter com a água:
Ó água, apaga o lume para ele queimar o pau, etc.
Não estou para isso.
Foi ao boi:
Ó boi, bebe a água para ela apagar o lume, etc.
Não estou para isso.
Foi ao carniceiro:
Carniceiro, mata o boi para ele beber a água, etc.
Não estou para isso.
Foi ter com a morte:
Ó morte, leva o carniceiro, para ele matar o boi, etc. A morte ia para levar o carniceiro e ele disse-lhe: Não me leves que eu mato o boi. Disse o boi:
Não me mates que eu bebo a água.
Disse a água:
Não me bebas que eu apago o lume.
Disse o lume:
Não me apagues que eu queimo o pau.
Disse o pau:
Não me queimes que eu bato no cão.
Disse o cão:
Não me batas que eu mato o gato.
Disse o gato:
Não me mordas que eu como o rato.
Disse o rato:
Não me comas que eu roo as fraldas à rainha.
Disse a rainha:
Não me roas as fraldas que eu ponho-me de mal com o rei.
Disse o rei:
Não te ponhas mal comigo que eu tiro a vara à justiça.
Disse a justiça:
Rei, não me tires a vara que prendo o homem.
Disse o homem:
Justiça, não me prendas que eu arranco a oliveira.
E o homem arrancou a oliveira e o macaco ficou com a sua romãzeira.
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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